“Apenas os pequenos segredos precisam ser guardados, os grandes ninguém acredita” (H. Marshall)

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A EDUCAÇÃO HOLÍSTICA & VITALÍCIA NA FILOSOFIA SOCIAL DA ÍNDIA

A Idade de Ouro surge quando a sociedade alcança valorizar a integridade do ser humano, sob o abrigo das instituições harmonizadas entre si –um dos nomes deste regime social é Sinarquia.
Pouco se sabe destes longínquos tempos da Humanidade, guardados sobretudo pelos mitos mas também através de heranças culturais, por vezes para além do registro silente das pedras. Não há que estranhar porém que a memória destas instituições tenha sido corrompida após incontáveis gerações, toca-nos o mérito de valorizar aquilo que resta e quiçá investigar o que possa ter sido nas origens.

Brahma, o Criador
A Índia Antiga entendeu que tudo... pode ser sagrado. Todas as dimensões da vida merecem ser espiritualizadas. Basicamente, a Sabedoria Antiga compreendeu aquilo que a Ciência Moderna afirma, ou seja, que “matéria é espirito no seu estado mais baixo e espírito e matéria no seu estado mais elevado” (H. P. Blavatsky) A meta da vida é transformar a matéria em energia, buscando a iluminação espiritual.
Para que tal coisa pudesse ser alcançada de uma forma mais generalizada, a primeira medida foi educacional. E como recurso natural se tratou de organizar ambientes especiais -chamados ashramas-para as sucessivas etapas da realização humana, tudo isto representando também as bases para as instituições áureas –basicamente escola, matrimônio, administração e religião- e as próprias classes sociais.

Os quatro ashramas ou etapas-de-vida

Teoricamente, tal coisa converteu as classes sociais em iniciações, e podemos dizer que os conhecimentos das Escolas Iniciáticas da Índia foram através disto socializados. Como havia de início os ideais sociológicos de igualdade e de dinamismo social, isto não foi difícil de alcançar, mesmo porque não se tinha nenhuma forma de ditadura ideológica ou classista, por assim dizer, a “cultura” é que representava as metas da evolução social.
Tal como nas classes educacionais, metas eram propostas para cada instituição védica. Aqueles que as cumpria poderia avançar nos graus espirituais e nas classes sociais correlatas. Porém quem estacionava um degrau sócio-cultural, tinha ali a sua classe definitiva. Este era pois o quadro resultante:*

  Estágio cultural (ashrama)                             Estado social (varna)

1. Estudante (brahmacharya) ..................... servidor (sudra)

2. Doméstico (grihastha) ........................... burguês (vaishya)

3. Administrador (vanaprastha) ................... guerreiro (kshatrya)

4. Renunciante (sannyasin) ........................ sacerdote (brahmane)

Na mitologia social hindu, as castas são emanadas do Manu (o “Mentor”), por sua vez uma emanação do deus Brahma, “o Criador”. Contudo, sabe-se que na raça-raiz árya, cujo ciclo foi implantado na época de Krishna há uns 5 mil anos, havia alguns raros seres humanos que alcançavam até cinco iniciações, chamados na Índia de Asekhas (“não-discípulos”, Mestres), e que poderiam ser identificados aos rihis ou videntes (aqueles que receberam os Vedas), uma vez que o termo remete às capacidades dos AskehasEsta quintessência se obtém através da integração dos elementos materiais, e pode ser transposta para o plano social, sendo esta na verdade a origem do conceito de Civilização. Seriam estes, muito provavelmente, os verdadeiros criadores e os administradores do sistema varnashramadharma (“leis de classes cíclicas”) em todo o mundo, como emissários ou representantes do Manu.
Havia então a tradição dos Saptarshis (os Sete Videntes), espécie de Assembléia de Sábios presente também na cultura nahua através da lenda da criação do Quinto Mundo pela assembléia realizada em Teotihuakan. Platão falava dos Sete Arcontes que governavam o mundo, a partir dos diferentes Continentes da Terra. Uma síntese deste tema existe hoje através da ideia da Grande Fraternidade Branca, estruturada sobre os Sete Raios da divindade, inspirada pela filosofia teosófica e derivadas.

A pirâmide sócio-cutural natural

Esta evolução social manifesta uma pirâmide social natural, uma vez que os padrões culturais selecionam os candidatos; situação esta que pode ser amplamente verificada na Antiguidade. Idealmente falando, o ápice social da pirâmide cultural (constituída pela aristocracia e o clero) não pesa sobre a base social econômica por duas razões: a. ser reduzido o número dos membros desta cúpula e b. por seus valores serem idealistas e espiritualizados. Ademais, existe todo um ativo serviço cultural, administrativo, educacional e espiritual altamente especializado realizado pela cúpula, cujo valor e importância é plenamente reconhecido dentro desta sociedade holística, sem necessidade de capitalização de valores.**

As quatro castas (caturvarna)
Com o passar do tempo e a perda da capacidade social para administrar as instituições em termos ideais, a questão dos estágios culturais passou a cada vez mais dar lugar aos estados sociais, até que se tratou de cristalizar esta situação através das castas-de-nascimento (jativarna) –quiçá como medida pia visando preservar as estruturas culturais, pois apesar de todos os problemas, a pirâmide social hindu se ainda manteve com razoável base cultural.
Exemplificando, aquele que tivesse a capacidade de passar uma “vida inteira” aprendendo dinamicamente, se tornava naturalmente um brahmane. Mais tarde, ao brahmane-de-nascimento era dado o direito de estudar toda a vida mais o menos dinamicamente. Para isto, os instrutores também observavam a velocidade com que as pessoas aprendiam: quanto mais rápida e completa fosse a assimilação dos conteúdos, mais promissor seria o avanço sócio-cultural. O padrão ideal também seria cronologicamente “piramidal”, relacionado com a aceleração da energia.
Neste processo, quanto mais avançada for a casta, mais ashramas ela acumula, como forma de prepará-la para os seus afazeres. Anteriormente, como vimos, era a capacitação nata ou vocacional que determinava a classe espiritual a ser alcançada. A perda é evidente, e nesta mudança também se impôs diversas corrupções, entre elas a privação da classe “servil” de contar com qualquer ashram. Outra questão negativa foi associar as castas às raças, como se depreende pelo termo varna, “cor”. Sabidamente existem também os sem-casta por nascimento, aos quais são concedidas as tarefas consideradas mais sujas e baixas.

um rishi védico
Pode soar curioso a forma como certos povos mantinham os preconceitos tão levianamente, porém isto não está tão longe de nós, na verdade pode estar bem mais próximo do que queremos perceber, ainda que as ideologias modernas façam as coisas de uma forma mais escamoteada. Raça e cultura são coisas muita ligadas, e associá-las às castas para efeitos de exploração econômica é apenas um passo.***

Claro que diante de algo assim, ficamos revoltados e queremos que tudo isto seja deixado de lado. Estamos longe de conhecer as origens destas estruturas sociais e nem temos a capacidade de reerguê-las. O Buda, porém, que conhecia o assunto mais a fundo, não era contra as castas, apenas contra a sua rígida vinculação com o nascimento. Consta que o sistema social concede uma forma de sair fora das castas, através de se tornar a pessoa um monge e daí, talvez, um sábio.

Harappa, Vale do Indus
Como última palavra, cabe inserir mais alguns elementos de tempo-espaço no plano social. Os ambientes culturais dos ashramas envolvem naturalmente um elevado projeto-de-civilização, e para isto foram criadas cidades novas especiais, muito provavelmente aquelas da Civilização do Indus no caso da Índia, berço e florescência da cultura védica ou mesmo dravidiana. Estas cidades possuíam um elevado padrão urbanístico, que tinham seus êmulos na Suméria com a qual mantinham relações culturais e comerciais. 

* Este quadro é algo idealizado, certas atividades podiam ser flexíveis. O vanaprastha poderia ser também um professor acadêmico e até um instrutor, o termo significaria “se aposentar numa floresta”, atitude que tem muita relação com aquilo que realiza o renunciante ou sannyasinTemos por certo que as instituições védicas não alcançaram a sua plenitude em função da evolução humana ser insuficiente então, coisa que não obstante já modifica nesta Nova Era.
** Quando as classes materialistas se apropriam destes assuntos como sucede na sociedade laica, o reducionismo e a perda de qualidade é evidente. Mesmo que as escolas sejam administradas por instituições religiosas, o Estado tem o poder de impor “currículos oficiais”.
*** Há quem diga que os ashramas são anteriores ao Brahmanismo, que este apenas codificou e adaptou a doutrina após a vinda dos áryas para a Índia, vindo também a cristalizar as castas. Com efeito, há registros destas atividades já na literatura védica (às vezes com nomes distintos), e sabe-se que muitas vezes os novos registros têm o propósito de recodificar a memória e as instituições. Ainda assim é coisa difícil de concluir com certeza, na prática sabemos apenas que em algum momento houve esta distorção e que os ashramas estão ligadas ao Brahmanismo, a chamada Filosofia Social clássica da Índia, codificada através das “Leis de Manu".


Bibliografia
"Brahmanismo - a síntese social", L. A. W. Salvi, Ed. Agartha
"Sociologia Universalista"L. A. W. Salvi, Ed. Agartha
"A Árvore da Tradição"L. A. W. Salvi, Ed. Agartha

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Classes sociais & estados-de-consciência: correlações originais
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Uma Nova Sociologia Construtiva

Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.

Contatos: webersalvi@yahoo.com.br 
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